A interminável farsa da
carreira dos professores | Editorial | PÚBLICO
Quando o Bloco e o PCP tiveram
uma real oportunidade de garantir a contagem integral do tempo de serviços dos
professores, exigindo-a como contrapartida para aprovarem o Orçamento do Estado
deste ano, tergiversaram – contentaram-se com uma anódina imposição ao Governo
de negociar com os sindicatos docentes. Quando o PSD teve uma real oportunidade
de cumprir a sua palavra e impor a mesma solução ao Governo, seguiu uma
estratégia de hipocrisia e de dissimulação que não é muito diferente – impondo a contagem
do tempo de serviço, sem se comprometer com datas. Já se suspeitava
e ficou provado: seja à esquerda, seja à direita, o tema dos professores está a
dar origem a um lamentável espectáculo que consiste em querer cativar a
docência com bravatas políticas que são puro ilusionismo.
Não é preciso dar muitas voltas à cabeça para percebermos
o que move no mesmo sentido e com a mesma retórica figuras tão díspares como
Jerónimo de Sousa, Catarina Martins ou Rui Rio: é claramente o peso eleitoral
da docência em Portugal. Chegados aqui, não é hora de se discutir sobre a
justiça ou injustiça da sua reivindicação (tanto há bons argumentos para se
concordar com a contagem integral do tempo de serviço como para perceber que os
custos em questão são perigosos para a sustentabilidade financeira do país a
médio prazo). É hora sim de perceber que o que hoje se passou no Parlamento não
passa de uma encenação. No Outono, quando o Governo precisava do seu apoio para
aprovar o OE, o Bloco e o PCP não tiveram a coragem de impor as
reivindicações dos docentes.
O PSD partilha no verbo as mesmas causas, mas, ao não avançar com datas para as
cumprir, cria um produto de marketing com um belo invólucro e substância
nenhuma.
A
proposta do PSD pretende colocar o partido como um paladino contra o “roubo” (Mário Nogueira dixit)
do Governo sem se preocupar que a devolução do produto roubado aconteça amanhã.
Perante tamanho artifício, o que se espera? Que o Governo comece a pagar todo o
tempo perdido este ano? Nem pensar. Que, ganhando as eleições, avançará no
próximo? Nunca com Centeno. O que quer dizer apenas o seguinte: que esta
proposta é uma farsa que pretende agradar aos professores com promessas tão
vagas, tão vagas que poderão nunca ser cumpridas – principalmente se o vetusto
e austero Rui Rio chegar um dia ao poder.
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