Bateu à Porta

quinta-feira, 1 de setembro de 2022

As vagas de acesso ao 5º e 7º escalões

“Que tal acabar com tanto queixume”

Carlos Santos

As vagas de acesso ao 5º e 7º escalões não me interessam, que se lixem quem delas precisa.

Estou colocado perto de casa, as colocações dos concursos não me dizem respeito.

A MPD também não é para mim, o problema é dos outros.
A aposentação ainda está longe, que lutem os velhos.
E seguindo este repertório inesgotável de pensamento umbigues-ta, desprovido de ética profissional, na sua incúria, o professor atual sem classe e semeando a sua própria desgraça só tem aquilo que merece.

Andam há meses nas redes sociais a lamentar que nunca mais saem as vagas de acesso ao 5º e ao 7º escalão? Que as vagas são poucas? Calam-se e aceitam as migalhas que vos dão?

Depois da maneira ofensiva com que o ministro tratou os professores à espera de vagas de acesso a esses escalões, o desmedido desrespeito pelos colegas em situação de MPD, o incumprimento da promessa de apresentar a RR ainda este mês e de tanta falta de consideração ao publicamente os retratar como preguiçosos e incompetentes, estão à espera de mais o quê para se insurgirem?
Que tal acabar com tanto queixume e individualismo e irmos todos (mas todos) à luta pelo interesse comum da dignificação da profissão?
Pelo interesse por uma carreira de professores condigna com melhores condições de trabalho para todos e não só para o meu umbigo?
Ser verdadeiramente professor é interessar-me genuinamente por tudo o que diz respeito a qualquer professor, porque, de algum modo, me diz respeito também a mim e à camisola de pedagogo que visto, tal como:

Salários decentes em vez do roubo do poder de compra que, só neste ano, nos vai tirar o equivalente a um salário anual;

Fim das cotas de acesso a escalões;

Aposentação mais cedo por desgaste profissional;

Devolução dos mais de 6 anos de tempo de serviço que nos foi roubado;
Ajudas de custo para deslocações e alojamento longe do domicílio;

Diminuição da burocracia e de excesso de trabalho não remunerado (a ser feito que seja pago como horas extraordinárias como na maioria das profissões);

Reforço da autoridade dos professores e de proteção no trabalho;

Vinculação mais rápida;

Maior estabilidade profissional;

Redução dos quadros de zona;

E uma lista interminável de perdas que os professores deixaram acontecer que é urgente serem repostas/renegociadas…

Para se alcançarem estes objetivos temos de ser inteligentes. Os médicos são um exemplo a seguir. Embora lidando com situações de risco de vidas humanas, vão à luta unidos por uma causa que acreditam ser justa.

Nós, professores, ficamos logo alarmados pelo facto de os meninos poderem perder umas aulitas. (deixo uma novidade: os meninos ficam tão felizes por terem uns friaditos como nós ficávamos quando tínhamos a idade deles. Não vão morrer por isso)
A este respeito, pensar que se fica bem com o mal dos outros, desde que não nos atinja diretamente, não é solução para ninguém e só alimenta a destruição da classe.

É evidente que nos alhearmos dos problemas e culparmos sindicatos ou o colega do lado porque não vai à luta, acaba por deixar tudo na mesma.

Está bem de ver que, vencidos pelo medo, acobardados e conformados com a situação existente, vamos permitindo que a nossa situação vá ficando cada vez pior. Se o nosso descontentamento se fica pelo simples protesto e lamento nas redes sociais, então não passamos de uns ingénuos que esperam que tudo se resolva por obra e graça do espírito santo sem termos o pequeno incómodo de nos esforçarmos pela melhoria das nossas vidas.

O absurdo de tudo isto é que o “Agarrem-me, senão vou-me a eles!” dos nossos sindicatos e de todo o palavrório dos professores não passa de alocução sem ação.

Pior do que os professores estarem cansados com o que tem acontecido, é a mansidão motivada pela descrença na ineficácia da repetição da mesma solução de luta proposta que, visivelmente, já não resulta.

Greves da treta de 1 dia, à 6ª feira para prolongar o fim de semana, só nos deixa uma má imagem perante a opinião pública.

Manifestações ao sábado que não incomodam ninguém e já nem nos noticiários aparecem, só servem para nos desgastar e os sindicatos mostrarem sinal de vida. Não há dúvida que o absurdo de tudo isto não pode continuar.

Perante a natureza desta situação, há que ter coragem, fazer sacrifícios e criar um fundo de greve (também pelos sindicatos à imagem do que acontece noutros países) e fazer uma greve dura e consequente e uma manifestação em dia de semana que incomode tanto como os sucessivos governos têm importunado as nossas vidas.
É forçoso que se faça parar o país para que nos ouçam, nos respeitem, nos tratem como merecemos, nos devolvam tudo o que nos roubaram e nos continuam a roubar, para que nos deixem trabalhar e viver com o mínimo de dignidade.

Carlos Santos 

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