“Que tal acabar com tanto queixume”
– Carlos Santos
As vagas de acesso ao 5º e 7º escalões
não me interessam, que se lixem quem delas precisa.
Estou colocado perto de casa, as
colocações dos concursos não me dizem respeito.
A MPD também não é para mim, o problema
é dos outros.
A aposentação ainda está longe, que lutem os velhos.
E seguindo este repertório inesgotável de pensamento umbigues-ta, desprovido de
ética profissional, na sua incúria, o professor atual sem classe e semeando a
sua própria desgraça só tem aquilo que merece.
Andam há meses nas redes sociais a
lamentar que nunca mais saem as vagas de acesso ao 5º e ao 7º escalão? Que as
vagas são poucas? Calam-se e aceitam as migalhas que vos dão?
Depois da maneira ofensiva com que o
ministro tratou os professores à espera de vagas de acesso a esses escalões, o
desmedido desrespeito pelos colegas em situação de MPD, o incumprimento da
promessa de apresentar a RR ainda este mês e de tanta falta de consideração ao
publicamente os retratar como preguiçosos e incompetentes, estão à espera de
mais o quê para se insurgirem?
Que tal acabar com tanto queixume e individualismo e irmos todos (mas todos) à luta
pelo interesse comum da dignificação da profissão?
Pelo interesse por uma carreira de professores condigna com melhores condições
de trabalho para todos e não só para o meu umbigo?
Ser verdadeiramente professor é interessar-me genuinamente por tudo o que diz
respeito a qualquer professor, porque, de algum modo, me diz respeito também a
mim e à camisola de pedagogo que visto, tal como:
Salários decentes em vez do roubo do
poder de compra que, só neste ano, nos vai tirar o equivalente a um salário
anual;
Fim das cotas de acesso a escalões;
Aposentação mais cedo por desgaste
profissional;
Devolução dos mais de 6 anos de tempo de
serviço que nos foi roubado;
Ajudas de custo para deslocações e alojamento longe do domicílio;
Diminuição da burocracia e de excesso de
trabalho não remunerado (a ser feito que seja pago como horas extraordinárias
como na maioria das profissões);
Reforço da autoridade dos professores e
de proteção no trabalho;
Vinculação mais rápida;
Maior estabilidade profissional;
Redução dos quadros de zona;
E uma lista interminável de perdas que
os professores deixaram acontecer que é urgente serem repostas/renegociadas…
Para se alcançarem estes objetivos temos
de ser inteligentes. Os médicos são um exemplo a seguir. Embora lidando com
situações de risco de vidas humanas, vão à luta unidos por uma causa que
acreditam ser justa.
Nós, professores, ficamos logo alarmados
pelo facto de os meninos poderem perder umas aulitas. (deixo uma novidade: os
meninos ficam tão felizes por terem uns friaditos como nós ficávamos quando
tínhamos a idade deles. Não vão morrer por isso)
A este respeito, pensar que se fica bem com o mal dos outros, desde que não nos
atinja diretamente, não é solução para ninguém e só alimenta a destruição da
classe.
É evidente que nos alhearmos dos
problemas e culparmos sindicatos ou o colega do lado porque não vai à luta,
acaba por deixar tudo na mesma.
Está bem de ver que, vencidos pelo medo,
acobardados e conformados com a situação existente, vamos permitindo que a
nossa situação vá ficando cada vez pior. Se o nosso descontentamento se fica
pelo simples protesto e lamento nas redes sociais, então não passamos de uns
ingénuos que esperam que tudo se resolva por obra e graça do espírito santo sem
termos o pequeno incómodo de nos esforçarmos pela melhoria das nossas vidas.
O absurdo de tudo isto é que o
“Agarrem-me, senão vou-me a eles!” dos nossos sindicatos e de todo o palavrório
dos professores não passa de alocução sem ação.
Pior do que os professores estarem
cansados com o que tem acontecido, é a mansidão motivada pela descrença na
ineficácia da repetição da mesma solução de luta proposta que, visivelmente, já
não resulta.
Greves da treta de 1 dia, à 6ª feira
para prolongar o fim de semana, só nos deixa uma má imagem perante a opinião
pública.
Manifestações ao sábado que não
incomodam ninguém e já nem nos noticiários aparecem, só servem para nos
desgastar e os sindicatos mostrarem sinal de vida. Não há dúvida que o absurdo
de tudo isto não pode continuar.
Perante a natureza desta situação, há
que ter coragem, fazer sacrifícios e criar um fundo de greve (também pelos
sindicatos à imagem do que acontece noutros países) e fazer uma greve dura e
consequente e uma manifestação em dia de semana que incomode tanto como os
sucessivos governos têm importunado as nossas vidas.
É forçoso que se faça parar o país para que nos ouçam, nos respeitem, nos
tratem como merecemos, nos devolvam tudo o que nos roubaram e nos continuam a
roubar, para que nos deixem trabalhar e viver com o mínimo de dignidade.
Carlos Santos
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