MAIA (Monitorização, Acompanhamento e Investigação em
Avaliação Pedagógica) – Luís Filipe Torgal
Nos dias 4 e 5 de junho, foi publicado no Observador,
no Blog deAr Lindo e no site da Rádio Boa Nova (Oliveira do Hospital) um texto
meu com apreciações críticas e interrogações sobre o projeto educativo MAIA.
Pelas reações que recebi, nos dias seguintes à edição
do texto, confirmei que muitíssimos colegas e outros cidadãos não docentes
subscrevem as mesmas preocupações e dúvidas.
A este propósito, leiam o artigo sério e clarividente
de Paulo Guinote intitulado «Uma educação distópica», publicado no último número
do Jornal de Letras (15-06-2022). Percebi também que o meu texto foi
rececionado de forma virulenta pelos mentores do MAIA e por alguns dos seus
discípulos, os quais preferiram injuriar aqueles que pensam como o autor, em
vez de responderem às suas questões e contraditarem os seus argumentos. Nos
sacrossantos grupúsculos do poder, os que questionam os enredos labirínticos
destas pedagogias são acoimados de mentirosos, ignorantes e retrógrados. (Se
vivêssemos no Estado Novo de Salazar ou Caetano, acusá-los-iam de
«subversivos», «comunistas», perigosos «antissituacionistas» e haveriam de os
sanear, prender ou degredar).
Os «cientistas» da educação instigadores
do MAIA inculcaram nas suas mentes eruditas o dogma de que somente as suas
teses educativas habilitam os alunos a pensarem e a desenvolverem o espírito
crítico e que essas teorias têm a mesmíssima unanimidade e fiabilidade das leis
produzidas pelas ciências exatas.
O Projeto MAIA teve o seu início em setembro de 2019, contou com a conceção e coordenação do Professor Domingos Fernandes e com a implementação da Direção-Geral de Educação.
Estão disponíveis os dois relatórios de desenvolvimento do projeto, bem como diversos materiais (e.g., Textos de Apoio, Folhas) e webinares, visando o apoio aos diversos intervenientes nos respetivos processos de formação.
(Por exemplo, rejeitam que as suas
práticas pedagógicas ampliem a burocratização da escola para níveis
insuportáveis, corram sérios riscos de desvalorizarem o conhecimento científico
estruturado e ousem transformar alunos e professores em «vendedores de banha da
cobra», capazes de obrarem discursos persuasivos, mas vazios e espúrios. E, num
outro registo, não se pronunciam sobre as provas de aferição ou os exames
nacionais dos últimos anos, cujas questões se tornaram demasiado básicas e,
afinal, estão longe de apelar ao conhecimento e espírito crítico dos alunos,
bem como à sua capacidade para produzirem textos bem escritos, fundamentados e
estruturados).
Partindo desta premissa, concluíram que
as teorias de avaliação / classificação que estão a impor, de modo
estandardizado, aos professores de todos os cursos e níveis de ensino básico e
secundário da escola de massas são tão absolutas e credíveis como as teses
sobre a esfericidade da Terra.
Aos professores, alunos e pais resta aceitarem estas alegadas «verdades científicas» com servilismo, pois foram concebidas por luzeiros que (alegadamente) conhecem as comunidades educativas como ninguém e por isso engendraram ardilosos expedientes para erradicar o insucesso dos alunos.
Só lamento que apesar de tantas leis,
portarias e circulares emitidas, apesar de tantas comunicações, congressos,
centros de estudo e ações de formação realizados, apesar de tantos documentos
de orientação elaborados, apesar das persistentes pressões exercidas sobre as
direções dos agrupamentos, apesar de tanto dinheiro do erário público
prodigalizado, estes «cientistas» e os seus apparatchiks ainda não tenham
conseguido persuadir a maioria dos professores que as suas teses são puras,
justas, inteligíveis, originais, infalíveis, imprescindíveis e exequíveis, e
que estão a transformar a escola num lugar mais inclusivo, fraterno e promotor
de uma formação e educação de excelência.
Felizmente para eles que a festa não
terminou. Nos próximos quatro anos, o Ministério da Educação (cuja máquina
está, talvez como nunca, capturada por estes «cientistas», que também já
presidem ao «independente» Conselho Nacional da Educação) tutelado por um
governo de maioria absoluta vai continuar a subestimar a formação científica
dos professores e a «investir» ainda mais dinheiro em formações técnicas
(catequizadoras) nas áreas da Avaliação, bem como da «Capacitação Digital» e,
agora, dos «Mindfulness» (!). Ainda que mal pergunte: o que pensam os sindicatos
e as associações de professores sobre o assunto?
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