A história de cinco meninos que trabalhavam em vez de ir à escola, é a obra prima de Soeiro Pereira Gomes. A miséria retratada em "Esteiros" é mais do que ficção: é a realidade de um país pobre, sem esperança, onde mais de metade da população é analfabeta.
Da janela do
quarto, Soeiro Pereira Gomes observava a luta trágica dos operários para
sobreviver. Entre os homens, havia crianças em idade de aprender as primeiras
letras. Recolhiam o barro dos estreitos canais do rio Tejo, os esteiros, para
dele fazerem telhas e tijolos. Trabalhavam a troco de um salário miserável, que
os condenava à mendicidade, a uma vida sem saída da pobreza. O autor via tudo
da janela da sua casa, em Alhandra, e refletia sobre a injustiça de uma
sociedade opressora e exploradora, organizada em favor dos mais fortes. Em vez
de calar, prefere denunciar com palavras e outros atos de resistência ao regime de Salazar.
Publicado em 1941, “Esteiros”, tem personagens
inspiradas na realidade: Gaitinhas, Guedelhas, Gineto, Maquineta e Sagui, são
“os filhos dos homens que nunca foram meninos”, dedicatória do autor a abrir o
romance. A obra, uma das mais emblemáticas do movimento neorrealista português,
é escrita numa linguagem acessível mas cuidada, com frases simples,
privilegiando o discurso direto para dar voz aos oprimidos. A 1.ª edição tem
capa e ilustrações de Álvaro Cunhal, o histórico fundador do PCP, o partido
comunista português ao qual o escritor aderira em 1937.
Soeiro Pereira Gomes passa a infância no Douro, estuda
em Coimbra, trabalha um ano em Angola e, finalmente, fixa residência na vila de
Alhandra, onde decorre a ação deste seu primeiro romance. Antes, em 1931,
escrevera o conto “O Capataz” mas a censura impede a publicação. Ele próprio é,
de certa forma, um operário; trabalha nos escritórios de uma fábrica de cimento
e conhece bem as condições desumanas praticadas naquela unidade fabril.
Por essa altura colabora em jornais e revistas,
desenvolve atividades culturais, cria bibliotecas, ensina ginástica aos filhos
dos operários e empenha-se na construção de uma piscina pública. Depois de
liderar o movimento grevista da fábrica Cimento Tejo de Alhandra, é obrigado a
passar à clandestinidade e afastar-se para sempre da sua mulher, entretanto
presa pela PIDE para o obrigar a entregar-se.
O romancista militante, apanhado pela morte aos 40
anos, deixa uma obra breve mas marcante: dois romances (“Engrenagem” e
“Esteiros”), um livro de contos (“Contos Vermelhos”), crónicas e contos avulsos
que foram sendo publicados. A produção literária é todavia suficiente para
fazer de Soeiro Pereira Gomes (1909-19499) um dos nomes maiores do neorealismo
português.
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Ensino: 3º Ciclo, Ensino Secundário
Ficha Técnica
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Título: Grandes Livros - "Esteiros" de Soeiro Pereira Gomes
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Tipo: Documentário
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Produção: Companhia de Ideias
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Ano: 2010
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